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Felicidade Comedida

Não classifico meus textos como histórias, contos ou crônicas ( com ressalva ao Resgate, esse sim foi uma crônica bem gostosa de escrever!), classifico meus textos como percepções, de vida, do ser humano, de comportamentos, enfim...
Hoje quero falar de felicidade, ou alegria, como for de seu agrado. Alguns ainda tem cerimônia com a palavra, outros já são íntimos  e até podem chama-la de “Fe” ou “Ale”.
Posso falar da felicidade sentida como também da felicidade observada. Pessoas felizes são fáceis de se perceber e identificar; Elas tem um brilho no olho mais intenso do que de costume, elas falam com um timbre mais doce que sua voz natural, até as mais contidas, se entregam a efusão do momento.
Espera ai, você disse momento?
Sim, acredito que ninguém é plenamente feliz. As pessoas vivem buscando e encontrando momentos de felicidade, que são combustíveis para as fases difíceis ou simplesmente desérticas.
Não meu amigo, nem aquela modelo, nem aquele cantor, nem o casal de apresentadores famosos, ninguém é feliz o tempo todo. Felicidade é questão de ser. Algumas vezes optamos por ser feliz ou não. Outras fogem ao nosso controle e a felicidade invade e transborda sem ao menos pedir licença. E é dessa, dessazinha ai, que chega com o pé na porta que quero discorrer.
Ápices de felicidade me dão medo. Não sou regra, mas só tenho propriedade – ainda que haja ressalvas- sobre mim, não? Então aceite minha singela opinião.
Toda vez que me vejo demasiadamente feliz, começo a desacreditar da veracidade dos fatos que me levam a ela. Boicotes aleatórios e muito sutis florescem das minhas atitudes. Já cheguei a pensar que sofria de Querofobia, no dicionário Medo (fobia) mórbido de ser feliz, da alegria ou contentamento. Do grego CHERO(alegria)+PHOBIA(medo)”. Mas não, meu medo não é da felicidade e sim do tombo que ela pode me causar. Encontro diariamente pessoas assim, que cercam-se em suas zonas, confortáveis e monótonas de segurança  e não se permitem ir até a página dois no quesito “ser feliz”. É mais seguro, é mais estável, mas francamente? É muito chato. Sempre discursei bem sobre correr riscos e esgotar possibilidades, mas sendo honesta comigo, não acredito que praticava isso de coração.
Venho largando a mão de muitos paradoxos, aceitando e me sujeitando a condições humanas, que fogem do meu pseudo -orgulho de ser intocável e superior a essa tal raça referida.
Larguei mão do que vão dizer, larguei mãos das garantias, não medi prós e contras, deu medo pra caral*%#¨ e mesmo assim eu fui. E estou indo. Se sou feliz? Ninguém é feliz. Felicidade é questão de ser, de escolha e no momento eu escolho simplesmente ser. Sentir essa adrenalina amedrontadora do brilho ofuscante nos olhos e do riso incontrolavelmente solto. Se eu cair? Dane-se, do jeito que estou no alto, até o chão tem uma vista linda. ;)

“is why I am happy, simply because I decided to be (…)”




Vital,V.

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