Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá
fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do
seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente
a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”.
Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral]
E eu chorei.
Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral]
Venho chorando desde então - dia
após dia - de forma lancinante e, desculpem-me a sinceridade, mas um tanto
quanto colérica.
Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond,
com Flaubert e Assis.
Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e
Marx.
{Choro as lágrimas de
Brecht.}
Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.
Choro ainda mais pelo João, pelo
Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...)
.
Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados
foram e já estão condenados a exploração.
Choro pela injustiça mascarada por meritocracia.
Choro pela desvalorização dos calos em nossas mãos.
Choro pelo conformismo e a desunião da classe.
Choro, quase engasgando, pelas escamas nos olhos daqueles
que não ainda enxergam.
Choro pelos que desistem.
E quanto mais eu choro, mais submerjo no sangue derramado, o mesmo sangue que manchou nossas bandeiras,
avermelhando nosso passado e arremessando-me
bruscamente nas memórias daqueles que morreram lutando pelos direitos que são
meus, que são seus e ainda hoje não são respeitados e exercidos.
Desculpem o meu choro, ele pode até te incomodar... Mas eu
precisava chorar!
Minhas lágrimas depuram
quem fui e libertam-me dos grilhões presos
em minhas juntas de forma tão covarde e opressora.
Eu chorei pelo sistema naquele álgido domingo.
Agora com licença, não há mais tempo de melúrias. Com dor ou
sem dor a luta urge e meus companheiros me aguardam. Como dizia o velho
barbado: As revoluções são a locomotiva
da história e não vou perde-la dessa vez.
Vital, V.
Chorei ao ler...não de tristeza, mas de emoção.
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