Faz doze graus essa madrugada. O homem tá dormindo na calçada. Não tem teto, não tem nome, não tem nada. O marido cobrindo a esposa na porrada. Os filhos choram quietos, com a porta bem trancada. Manifestando anti-aborto apressada, A caminho do congresso Pulando na rua criança abandonada. O vírus mata mais do que chacina. O governo é anti-ciência e anti-vacina Não se compra mais o pão, que dirá a gasolina? Entregamos nossa pátria na mão do genocida. Faria Lima sempre linda, arborizada Tem ciclista, Starbucks e desfile de bolsa cara. Do outro lado lá da ponte, eu avisto a quebrada. Lá tem fome, tem enquadro, amontado e pelada. Onde tudo é muito incerto, Quem tá longe é quem tá perto. Onde o descanso é cansativo. E dormimos de olho aberto. Monstros dormem em palácios e anjos a céu aberto. Não tem como meu amigo, você me dizer que isso deu certo. Vital,V.
E tenho dito, ponto final, paramos por aqui e fim de prosa! Podemos conversar?