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Retomada

 

Há um ditado que diz,

Se a minha memória não falha,

Que quando algo é para ser

Ajuda até quem atrapalha.

 

Curiosa nossa história

Na gangorra dos limites

Dando a mão à palmatória,

De caos meros supérstites

Entre flores e vitórias.

 

Você foi sem querer ir.

Eu fiquei sem digerir.

Foi ai que entendemos

A importância do partir

Pois as vezes é só ele,

que nos permite reflorir.

 

Você voltou pro velho ninho.

Onde seu reino reside.

Ele tem nome e lugar

É seu porto e seu égide,

Lhes apresento: o meu carinho.

 

Laços desatados.

Agora estão mais enfeitados.

Sabores esquecidos.

Novamente apreciados.

 

Nossos corpos se conectam

Com chamar no liar.

Minha energia reverbera

A cada refastelar

Que sua língua úmida e quente

Descobre no meu corpo

Mais um trecho do te amar.

 

Os deuses escrevem cartas

E cândidos presunçosos que somos

Tentamos decifrá-las

Eles riem de nossa tolice

E nos sussurram aos ouvidos:

Despreocupem-se,

que já acatamos vossas súplices.

 

Então seguro sua mão

Com a certeza de não mais solta-la.

Pois minha alma já se fundiu a sua.

E prometeu para sempre ama-la.

 

Durma tranquilo nos meus braços,

Pois toda a treva já passou.

Onde havia dúvida e angústia,

Agora há certeza, segurança e muito amor.


Da janela, não importa se faz sol ou trovada.

Dentro de mim um Sol imenso resplandece

Na ternura dessa retomada.





Vital, V.



Comentários

Os queridinhos.

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Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

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