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Mostrando postagens de 2014

Desejo

A Morte

Entendo que perder alguém que se ama vai muito além de uma ausência afiada que perfura de forma bem aguda o coração. Estende-se até o rombo que é deixado na estrutura familiar,      o lugar vago na mesa,         as roupas usadas há dias atrás,             a escova de dente meio descabelada na beira da pia,               a voz que ainda ecoa por todos os cantos da casa, a                    fotografia que congela momentos bons,                       a música que ainda ontem era assoviada de forma desafinada,                          o cheiro que ainda está no travesseiro,                                   o livro com a página demarcada.  Tudo está ali.  Menos você. A morte é tão implacável que não pergunta se você disse o quanto amava, não permite cinco minutos para pedir perdão pelas inúmeras falhas , não espera as etapas da vida que aquela pessoa simplesmente precisava estar ali, enfim...  Ela arranca o que está encarnado em você, derrubando seus pilare

E-S-C-R-E-V-E-R

Hoje eu decidi escrever sobre: escrever ! Em um longa reflexão sobre o que escrever, me peguei entusiasmada pela pré-criação; Cobrando-me um novo texto, não porque tenho leitores assíduos ou seja uma formadora de opiniões a rodo, mas pelo simples prazer – orgástico- que me dá, unir letras, palavras, sentenças e preposições de forma ritmada, sinérgica e deliciosamente minhas. Quando escrevo, me encontro, sou eu com o mundo e mais ninguém. Minha opinião é lei, não há espaço para contestações, questionamentos, durante alguns minutos, você só tem a opção de ler – e aceitar;- o que defini e sintetizei sobre a vida. É meu território, meu reino, meu refúgio, meu devaneio. Analisando pautas de uma vida inteira, percebo que só finalizo capítulos e digiro assuntos quando coloco-os no papel. Transcrever situações, me obriga a solucioná-las e me dá paz – ou forças- para seguir em frente. Se pudesse, conectaria fios por todo meu corpo, pra dividir com vocês o transe místico que me enco
Máquina do Tempo Ah quem duvide da capacidade de voltar no tempo! Eu não. Não sei porque ainda insistem em inventar máquinas para essa viagem, formulas mágicas para percorrer no passado ou visitar o futuro. Eu descobri isso de uma forma bem mais simples. Existem pessoas que são verdadeiros “portais”, que nos arremessam em realidades  longínquas de nossas vidas. Nos fazem sentir sensações adormecidas, empoeiradas, esquecidas. Nos remetem – e congelam- a épocas que gostaríamos de reviver, e acredite, com elas e através delas, nós revivemos. E assim sempre será. Mesmo que tragamos novas bagagens, histórias pra contar, mesmo que já não sejamos os mesmos, com aquelas pessoas, seremos sempre a “essência do nós”. Esses pilares são imutáveis, mesmo que cada um seja por si só uma metamorfose constante, o que representa e a força que tem nessa brincadeira atemporal não, essa é rocha e segura. Ainda bem, ainda bem... Vital, V.
Trecho do novo projeto... "... tragam mais água, rápido, precisamos de ajuda!!! - berravam com toda a força. O fogo já havia tomado todo o carro e em meio as ferragens, Otávio se movia com as últimas forças que lhe restavam, com os olhos fixados nos meus, lutava por mais alguns segundos de vida. Voltávamos das férias improvisadas que resolvemos nos dar depois do nosso retorno. Ficamos cerca de um ano separados e voltamos decididos a nunca mais nos soltar. Foi o ano mais estranho e vazio da minha vida. Lembrei-me dos primeiros dias na praia paradisíaca que nos hospedamos, Tatá como eu o chamava, ficava deitado na rede, abraçando-me contra o peito repetindo de hora em hora o quão queria parar o tempo e ficar ali comigo. Fizemos amor em uma manhã e enquanto ele beijava meus olhos, sussurrou em meu ouvido: “Estou fazendo um filho em você principessa!”. Foi o clímax da minha alma. Por dez dias, resgatei toda a felicidade de um vida. Eu gostava de me ver refletida nos olhos negros
Sexta-Feira Os dias trazem consigo, energias diferentes, o aspecto do ar e a velocidade das horas divergem de um para o outro, mas a sexta-feira? Ah, a sexta-feira não! Ela é sempre deliciosamente provocante.  Já repararam o frescor que a sexta tem? O ar é mais leve, tem ritmo, um balanço envolvente, as horas passam derretendo, os problemas batem no jargão: "Dane-se, é sexta-feira!" e perdem sua força.  As cervejas mais geladas , as meninas mais ousadas , os rapazes bem afim, os amigos se esperam, os abraços, os laços, os traços, todos dançam na ciranda da sexta-feira. Eu, particularmente adoro a sensação de eternidade que ela me traz, como se ali se inicia-se o meu " feliz para sempre" , onde o portal das coisas boas, como sono, prosa, amor, amigos, família fosse aberto sem data prevista para fechar.  Esqueço-me completamente que estou na véspera dos dois dias mais rápidos da semana, da angustia do domingo pós Fantástico, do sono e mal humor da segunda-
AGONIA Já sentiu-se rendido pela vida? Inerte a própria vontade? Como num estado de embriagues, que você tenta controlar o movimento das suas pernas, mas elas teimam ir para o lado oposto? Então, sinto-me por muitas vezes, embriagada em vida, mesmo sã, o universo me arrasta para certas realidades, que como numa esteira, de nada adianta correr, não se sai do lugar. Sabe aquela coragem toda do ultimo texto? Da Felicidade Comedida? Então, foi engolido por uma sensação de afogamento estarrecedora. A sensação de vulnerabilidade sempre me incomodou, mas a situação de impotência diante das minhas próprias “escolhas”, ah, essa me tira do sério! Não ter o controle do próprio destino, fazer parte do jogo de peças do Universo, tudo isso não cabe no meu entendimento e me apavora. De que adianta eu decidir por isso ou aquilo, se a maré vem e me arrasta pra outro polo? Fazer parte do clã das conexões, ditas e reditas por alguma força maior é o que temos pra hoje. Desculpe-me tantas pergun

Nem choro e nem vela

Naquela esquina, um muro escuro, pichado de dores, lamurias, sussurros. Ando cansado, com os pés doloridos, de tanto correr, sem rumo em círculos. Já mudei o mundo, o meu e o seu, hoje eu só quero, um descanso profundo; Não estou desistindo, nem me rendendo, só implorando o seu  colo e alento. Danço sem ritmo, em meio ao salão, como o meu par, a cruel solidão. Sei que preciso daqui ir embora, mas me enlaça lembranças de outrora. Meu precipício, começa em você, que me domina, me consome o viver. Já fatigou, tantas palavras, que dos meus dedos, brotam e se alastram. Não tenho paciência para lamentação, alguém dá um tiro no meu coração? Então renascer, das cinzas refaço, escancaro o espaço, pro amor florescer; Olho pro Céus, faço um clamor, oh Pai eu te peço, quero morrer de amor! Vital, V. 08/01/2014 -Desenterrado do meu baú de gavetas pseudo-poéticas.
Felicidade Comedida Não classifico meus textos como histórias, contos ou crônicas ( com ressalva ao Resgate, esse sim foi uma crônica bem gostosa de escrever!), classifico meus textos como percepções, de vida, do ser humano, de comportamentos, enfim... Hoje quero falar de felicidade, ou alegria, como for de seu agrado. Alguns ainda tem cerimônia com a palavra, outros já são íntimos  e até podem chama-la de “Fe” ou “Ale”. Posso falar da felicidade sentida como também da felicidade observada. Pessoas felizes são fáceis de se perceber e identificar; Elas tem um brilho no olho mais intenso do que de costume, elas falam com um timbre mais doce que sua voz natural, até as mais contidas, se entregam a efusão do momento. Espera ai, você disse momento? Sim, acredito que ninguém é plenamente feliz. As pessoas vivem buscando e encontrando momentos de felicidade, que são combustíveis para as fases difíceis ou simplesmente desérticas. Não meu amigo, nem aquela modelo, nem aquele cant
O RESGATE- FINAL Antonio se levantou, me recolheu pelo braço e me arrastou de forma grosseira para fora da festa. - Que história é essa Anne? Não é a primeira e nem a segunda vez que te chamam de prostituta para mim! Eu nunca questionei nada, parto pra cima para defender sua moral, mas estou estranho tudo isso! Está na hora de sermos honestos um com o outro não acha? Vi meu mundo desabar e todos os meus sonhos escorrerem ralo abaixo. A casa na Rua Dárvia, os filhos com queixos quadrados como os de Antonio, a jazz rolando no radio da cozinha enquanto eu preparo o fricassé de frango para o almoço de domingo. Tudo caindo por terra na minha frente e eu não tinha mais como manter. - Mil perdões meu querido!- comecei meu discurso de encerramento de um amor. - Eu venho há alguns anos tentando me enterrar sob a terra junto ao meu passado vergonhoso! Sim, o que seu primo disse é a mais pura verdade! Eu me prostitui durante minha adolescência, me sustentei assim, comprei minha casa, meu c
O RESGASTE - PARTE 6 Já no hotel, desfizemos nossas malas, tomamos um banho e fomos ao encontro da família de Antonio, que nos aguardava em um jantar de boas-vindas. Chegando ao restaurante, sua mãe nos recepcionou calorosamente, me envolvendo em seus braços e me acompanhou até a mesa. Apresentou-me como sua nora e mesmo com o coração quente, sentia um frio no estomago e uma pontada no rim que me incomodavam. Todos foram muito gentis, bebemos e comemos até tarde, riamos como velhos amigos e eu me sentia a pessoa mais feliz do universo. Meu amor por aquele homem e tudo o que rodeava só aumentava. E com ele, o meu medo. Após o jantar, a irmã de Antonio nos convidou para uma festa típica da cidade, essas bem tradicionais de interior. Topamos na hora, e eu me via sociável e agradável, com um sorriso escancarado a todo tempo. Antonio não desgrudava de mim um segundo que fosse, dizia em meu ouvido o quanto eu o fazia feliz. Meu êxtase se transfigurava em jubilo. Na roda gigante,
O RESGATE- PARTE 5 De volta a segunda-feira, dia o qual me sinto segura por sua rotina chata e estável, encaro minha realidade, enterrando toda a loucura do final de semana no quintal dos fundos. Trabalho em um banco privado há alguns meses, é tão monótono e sem graça como a minha vida. Perfeito para mim! Penso mil vezes antes de entrar na academia e encarar Antonio. Respiro fundo e me desafio a entrar. Entro cabisbaixa, quase imperceptível aos olhos dos outros. Menos os  de Antonio que  me fitam com ar de desapontamento. Sinto um embrulho no estomago, envergonhada, descartável, sensações rotineira pra mim. Todos pegam seus pares e um garoto que sempre dança com a namorada, está sozinho. Antonio friamente me indica para acompanha-lo! Que grande merda esta aula. Estou péssima. Gosto tanto daquele homem. Procurando a chave do carro dentro da imensa bolsa, no meio do estacionamento sou surpreendida por Antonio. -Anne, não acha que precisamos conversar? - Desculpe, estou
O RESGATE-PARTE 4 Antonio estava com o supercílio aberto e sangrava muito. Calcei seu braço em meus ombros e o levei para fora do salão em poucos minutos. Todos tentavam ampará-lo, mas tomei posse dele e o arrastei para o carro. O coloquei sentado no banco do passageiro, abruptamente arranquei a chave do seu bolso e sai cantando os pneus. - Para onde está me levando? – resmungou, meio grogue. – Para o hospital, claro! - Não, por favor, não quero ir! Me leve para minha casa, só preciso de um curativo, foi um corte superficial! – Hesitei, mas ele insistiu tanto que acabei levando-o para meu apartamento. Carregando-o praticamente nos braços, entramos no meu mausoléu. Estava uma bagunça sem tamanho, reflexo da minha vida.  Como eu havia me aprontado rapidamente para sair, haviam roupas e sapatos espalhados pelo chão. Não era a impressão que queria causar ao meu amado mas devida as circunstância, era o que tínhamos. Coloquei ele acomodado na minha cama, ainda zonzo enquanto peg
O RESGATE-PARTE 3 Entrei no carro rapidamente, fugindo das gotinhas de chuva que iniciavam seu espetáculo noturno e que seriam fatais para meu cabelo, devidamente arrumado. O carro de Antonio tinha cheiro de canela, um cheiro que sentia na sua roupa enquanto dançávamos e me abria o apetite - todos possíveis. - Nossa, você esta deslumbrante! - Elogiou-me de prontidão com tom eufórico e surpreso. Mas é de se compreender tamanho espanto, meu tubinho  preto de costas nuas, um salto significativamente imponente e um pouco de maquiagem destoavam realmente daquela figura descabelada e desajeitava que se apresentava todas as noites. - Obrigada!- agradeci, tímida, porem ligeiramente provocante.- Mas adianto, não saio a noite há bons anos, devo estar completamente enferrujada! - Querida, peço desculpas até se fui arrogante quando lhe intimei, porém senti a necessidade de ser mais firme para que você rompesse esse véu que a divide e separa de todo o resto da humanidade! Você precisa se perm
O RESGATE - PARTE 2 (...) Voluteando no salão, era misto de vertigem e delírio! As mãos firmes de Antonio me mantinham junto a seu corpo. A cada passo, ainda que desajeitada, me sentia mais dentro de mim, como se mergulhasse em águas profundas da minha alma. Foi uma experiência cósmica aquelas horas. Ouvia comando duros, com voz de veludo em meu ouvido. Acho que no fundo é o que toda mulher anseia. Voz de comando, mascarada de afeto. Terminamos a dança face a face, ofegantes, olhos fixos como imãs. Não sei se é devaneio ou romantismo da minha parte, mas houve ali uma atração mutua, mas se esvaiu em segundos logo após meu boicote – desviei o olhar e soltei sua mão -. Todos se despediam calorosamente, eu simplesmente recolhi minha bolsa, meu casaco, soltei o cabelo e sai em disparada. Tudo aquilo, ou nada daquilo, havia me perturbado demais. Cheguei em meu velho apartamento, cheio de livros e plantas esquisitas. Arrancando a roupa da porta de entrada até o banheiro, como de cost
O RESGATE-PARTE 1 Era um resgate de si. Uma tentativa de se salvar. Tudo o que era importante estava caído no esquecimento, só se lembrava dos paradoxos camuflados de felicidade. Respirou fundo, ajeitou a camisa, jogou os cabelos pra trás e entrou. -Boa noite, vim me matricular na aula de dança! – disse com a voz trêmula, tentando me mostrar segura. Por anos eu não sabia o que era isso, dentro de minha prisão particular. - Claro, hoje é seu dia de sorte! Começou uma turma nova na sala 7, faz uns 15 minutos! Gostaria de se juntar a eles? – respondeu-me o atendente sorridente. Fiz a matrícula e subi as escadas, acompanha dessas garotas fitness super empolgadas de academias, com polainas coloridas e um perfume enjoativo. Ela não parava de falar, não se sentia desconfortável com minha cara apática e meu silêncio quase constrangedor. Chegando na sala, a tal entra na frente, com toda sua deselegância efusiva e grita: “Olha quem chegou!! Uma salva de palmas para nossa mais nova
Esmiuçar Anos e anos afio em um relacionamento; Jantar no japonês sexta a noite, compras de final de semana, caminhada no parque fim do dia e o cineminha do sábado a noite, domingo a tarde, dia do amor, um passeio cultural e uma boa série na TV, entre gordices e risadas, cobranças e marasmo, tranquilidade e parceria. É, vamos viver a vida a dois! Acabou! Estou livre. Liga “prazamiga ”, corta esse cabelo, encurta essa saia, baixa aplicativos, ressuscite os mortos, marque mil compromissos, vá em todos que puder, estoure o cartão de crédito, compre saltos altos, arrisque uma nova depilação, lingerie nova, entre na academia, baixe um playlist dangerous , ligue pro seu melhor amigo, saia com um cara estranho, saia com um normal, dê papo pro bonitão e flerte com o engravatado do elevador; Você não pode parar! A questão aqui é: Esmiuçar cada fase, sem deixar resquícios, sem deixar por viver! Intensidade sempre fez minha cabeça, já não é de hoje que abomino os meios-termos e acredito
Nossa Eternidade Desenhamos formas no ar, as pontas dos dedos dançavam entre o nada, de forma desajeitada, se tocavam, entrelaçados, unindo ali, energia singular. Ele tinha um cheiro bom, mas o hálito dele era o que encantava, tinha um adocicado quase enjoativo, que me dava uma pontada no fundo da garganta. Ele falava baixinha, com uma rouquidão de arrepiar cada fio do meu corpo. A pontinha do nariz gelado, roçava carinhosamente pela minha face, causando choque térmico na minha pele fervente. Dizem que não temos controle sob as horas, mas naquele momento, eu sei que os minutos congelaram tamanho frio na minha barriga. O ar era denso, nossos movimentos em câmera lenta, o quarto escuro estava iluminados pelas luzes da cidade que não dorme. Os corpos estavam exaustos, nus, suados, ofegantes e em nó. Não se sabia onde começava um e terminava o outro, e na boa? Eu não queria descobrir. Eu não sei se era Chico ou se era Caetano, mas era bossa, era blues. Risadas eufóricas, câimbra n
Libertação O primeiro ensinamento de um ser-humano na terra, é o certo e o errado. Logo de bebê, ouvimos nossos pais dizer: "Nananinanão" ou "Isso é cacá" , "isso é feio" , "Não, isso faz dodói" e daí é desencadeando uma vida inteira baseada no "sim" e no "não" . Isso pode, isso não pode, faça isso, jamais aquilo, siga por aqui, nunca pise ali. O fundamento do certo e errado vem por sociedade buscar um equilíbrio e um senso comum entre o todo e não sou anarquista a ponto de dizer: derruba tudo isso e vamos começar de novo! Porém, quando se trata de felicidade e coração ouso em dizer que tudo é questionável. Os dogmas e normas, padronizam um comportamento considerável assertivo, mas quem ditou tudo isso sabe o que me dá prazer? Me perguntou se quero obedecer? Se vou renunciar? Não vou incitar a rebeldia, mas também não vou acatar de primeira o que me é imposto, sem ao menos questionar e esmiuçar, até convencer meu