Entendo que perder alguém que se
ama vai muito além de uma ausência afiada que perfura de forma bem aguda o
coração.
Estende-se até o rombo que é
deixado na estrutura familiar,
o lugar vago na mesa,
as roupas usadas há dias
atrás,
a escova de dente meio descabelada na beira da pia,
a voz que ainda ecoa
por todos os cantos da casa, a
fotografia que congela momentos bons,
a música
que ainda ontem era assoviada de forma desafinada,
o cheiro que ainda está no
travesseiro,
o livro com a página demarcada.
Tudo está ali.
Menos você.
A morte é tão implacável que não pergunta se você disse o quanto amava, não permite cinco minutos
para pedir perdão pelas inúmeras falhas , não espera as
etapas da vida que aquela pessoa simplesmente precisava estar ali, enfim...
Ela arranca o que está
encarnado em você, derrubando seus pilares
sem nem questionar se você suporta ou não.
E ai fico uma ausência silenciosa,
tão barulhenta na alma que já não se dorme mais. Vontade do toque, do papo
chato que fazia bocejar, das preocupações demasiadas com os valores e
princípios, com as discussões que terminavam em risadas, na mão no cabelo que
surgia na hora certa, do exemplo e da direção nos próximos passos.
E agora?
Como se caminha, como se vive, como se é feliz sem você aqui? A vida me ensinou
a te amar, mas a morte? Essa não me ensinou a viver sem você!
Demora, demora muito para a dor se
tornar saudade; mas se torna! E fica belo. As recordações perdem suas teias de
aranha e brotam ali flores. O luto se transfigura em nova luta, luta essa pra
sorrir, tal qual sorríamos juntos.
Vital, V.
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