Fim de Prosa

Oi! Com licença, desculpe incomodar... Estou triste. Tem uma porção de gente a minha volta dizendo para eu não falar isso. Dá azar! Traz negatividade. Atrai coisas ruins! Você é sempre tão alegre, tão otimista, sabe sempre como resolver as coisas. Não combina com você. Mas eu estou triste. Não tá não! Bobagem. Engole isso. Respira. Sorria. Você é linda. Você é jovem. Tem um emprego bacana. Família que te ampara. Amor correspondido. Amigos queridos. Saúde. Mas, PORRA, eu estou triste! Xiiiiu, não grita, não surta.. Ei, o que houve com você? Você quer mesmo saber? Sei lá, eu só to triste, estou sentindo uma frustraç... AH, MAS OLHE PRA MIM, OLHE OS MEUS MOTIVOS! Minha perna dói, meu peito dói, meu braço dói, minhas lembranças dói!! Eu sei, só estava dizendo que estou triste também... Você está sendo ingrata! Motivos tenho eu. Veja todas as minhas misérias, expostas, sangrentas, pulsantes! Isso também me entristece.

A temperatura da boca é sempre quente.  Tem gosto de pecado, daquele que vive no paraíso. Aliás ele é profanamente celestial. Causa vicio, dependência, faz gritar seu nome em meio a madrugada,  ter crise de ciúmes torrenciais , paranoias descabidas, posse, loucura,  desejo exacerbado que escorre quente - queima. Causa também marola, brisa leve, coração afagado,  protegido, bem cuidado. Brinca com o tempo, com o vento, com meus medos, com os dedos...  Transita por mim - dentro e fora - com a mesma tranquilidade  que transita entre a realidade.  Visita meus traumas, curando-os um a um.  Invade meus sonhos, tornando-os realidade, um a um.  Domina meu corpo, fazendo-o seu templo, onde reina absoluto  e me faz desaguar inteira pra si. Me bebe, da cabeça aos pés.  Me faz sua. E que engraçado: lhe pertencendo me sinto verdadeiramente ( e finalmente! ) livre. Me deu asas e voa comigo. Me deu novos planos e é minha família. Me fez acreditar e agora, meu bem,  é co

Eu vivo me redobrando. Me desdobrando. Me esticando. Policiando. Tentando... Agora está silêncio. Já é tarde. Tem um blues tocando baixinho no som do carro. A cidade não para, assim como eu. Mas agora tudo está estranhamente silencioso. O moço que dirige o Uber diz que estou com cara de cansada. É um gesto de compaixão. Mas me faz refletir... Eu vivo correndo! Corro, corro e corro. Como um ratinho de gaiola. Assim como ele, já nem sei pra onde estou indo, só sei que preciso correr. Rápido, ritmado e constante!  Nesse exato momento eu zerei minhas notificações nas mil redes sociais que alimento e me alimento. Não há uma única janela no WhatsApp me chamando.  Não tem ninguém precisando do meu trabalho. Não tem ninguém precisando da minha atenção. Não tem ninguém precisando do meu humor. Não tem ninguém precisando do meu raciocino. Não tem ninguém precisando do meu amor. Ufa! Por um minuto eu me pertenço. Eu sou só minha. Ah que saudade de mim! Não preciso agrad

Eu me olhei. {Por fora Por dentro} Sentada de fronte ao espelho. {Do banheiro.   Da alma..   Da sociedade.} Eu decidi me perdoar.  {Cada parte do meu corpo.   Cada parte da minha autoimagem.   Cada cicatriz.   Cada curva que me fez colidir na corrida desenfreada que   vinha travando  contra a mim mesma.} Sentada de fronte ao espelho, eu me despi. {Dos trajes Dos traumas Das rejeições Da mutilação Dos padrões Das lembranças Da vergonha de ser quem sou} Nua, eu me toquei. {Nos seios que não são simétricos e nem estampáveis em revistas, mas que abrigam um coração que sente o outro, se dá pelo próximo, que mesmo golpeado, bombeia esperança, paixão e revolução. Nas pernas, que não tornearam como um dia sonhei, mas sustentaram tudo aquilo que carreguei pra chegar aqui. Pra ser quem sou. E que agora faz sentido... Na barriga, que não trincou, mas serviu de colo para os meus, de travesseiro nas noites frias, que reside b