Fim de Prosa

Você morou em mim.  Você nem sabe, mas já morávamos juntos quando eu tropecei naquele fio em meio a Paulista, sai desajeitada e todos riram de mim. Você não,  você sorriu para mim . Ali você já começou sua chegada . Na manhã seguinte eu mudei meu caminho só para tropeçar de novo, dessa vez não no fio, mas em você. Você morou em mim nas padarias do fim do dia, se recorda? Cara, se felicidade tem sabor, era daquele pão na chapa que eu mal tocava de tantas borboletas que dançavam no meu estomago. Você morou em mim no dia que fomos ao cinema assistir aquela regravação que você tanto gostava e eu fingia conhecer para me fazer interessante. Minha pele incendiava  e meu corpo tremia, eu esbarrava meu braço no seu e dava estática. Sua pele me dava choque e seu sorriso adrenalina . Você era um “barato” e tanto. Sua morada se expandiu naquele beijo que eu te roubei, porquê eu não tinha nada a perder, você já era meu tudo e de fato era tudo ou nada. E realmente nada... Nada fazia sentido

Inspira, respira, inspira, respira... Mais forte, segura... Solta! Agora mais forte, mais forte, mais rápido, mais forte, mais, mais... Sabe aquela veia do pescoço? A jugular? Que lateja? Essa mesma, que leva o sangue venoso diretamente para o crânio. Então... Deixa ela pulsar! Deixa escorrer, deixa transbordar, deixa estourar o laço, os cabos, o ligamento, a gente dá um nó bem forte, cego, com venda de cetim. Deixa subir, deixa correr, deixa esparramar, mas por favor, deixa fluir... Não me importa o que te move, contanto que te tire de inércia do comodismo conformado do "seguro". Balança, vai, nesse ritmo esquisito que só faz sentido pra você. Dança, requebra, mexe essa cintura e muda o curso da sua vida; Constrói sua história da forma que te faz gozar, regojizar, transcender. Pinta a página com cores que chocam, que vibram. Escreve de ponta cabeça, começa de trás pra frente e rabisca por cima. Mas por favor, deixa pulsar. Elenca suas paixões, reorganiza, provoca combus

Vivo em uma eterna provocação.  Quando alguém naturalmente se posiciona, desperta nos outros a busca incessante da sua bendita "opinião". Percebo claramente uma massa carente de representações. Pessoas que sentem muito e falam pouco. Talvez por não saber, talvez por assim temer ou quem sabe pra não se comprometer. O fato é: alguém tem que falar . Não sei se você é ativo ou passivo na arte, se é percursor ou é meramente expectador, mas vou falar por mim;   me escraviza . Sempre fui a primeira a levantar a mão, a me colocar na frente, a responder de prontidão, a me doer pelos meus,  a dissertar sem limites e por ai vai. Carrego em mim um turbilhão de teorias opiniosas e esquisitamente fundamentadas. Porém, o peso das vozes caladas, gritantes na minha cabeça ecoam e sobrecarregam minhas costas, diariamente cansadas pelo peso da idade, pouca, mas que ainda há de vir. Essa obrigatoriedade de ter que “ser” e provar o tempo todo aprisiona os que se dizem livres para fal

Que loucura é essa? Divide-se tudo, criamos um estranho mundo, reunimos nossas vidas atrás desse muro. De pouco em pouco, vem se agregando, complacentes em não desistir, dia a dia se entregando. Construímos uma relação sólida, cheia de amor e cuidados. Discussões, conflitos, ciúmes e opiniões. Vale a regra de que se é importante, releva-se, repensa-se, remonta-se, perdoa-se, recomeça-se; No jogo das referencias, entendedores entenderão. Da magia e bruxaria, literatura e harmonia; Nossas gírias e manias, toda discórdia cai por terra, os verdadeiros ficarão. Nosso espaço, abstrato, nossa casa, virtual, nossa família, escolhida, nossas histórias, divididas, nossos amores, incentivados, nossas angustias, amparadas, nossos medos, bem cuidados, nossas risadas, duplicadas, Nossa carência, suprida, nossas vidas, entrelaçadas. Meu amor? Todo de vocês. Gratidão! Vital,V.

Tem sentimento que se aloja do nada. Você está ali, parado na esquina, tomando seu café de fim de dia e quando respira um pouco mais fundo, sente algo no peito, uma espécie de peso que não se encontrava ali até então. É meu amigo, tem gente que entra sem pedir licença, abre as portas fechadas sem ao menos bater; que vem arrancando as cortinas empoeiradas e abrindo as janelas do coração , que até então  estava protegido e resguardado a várias chaves. São esses seres que iluminam seu interior e quando percebe, está se enxergando com tal clareza, que se pode tranquilamente definir o que quer e merece. E eu quis você, do dia em que coloquei meus olhos em ti, eu te quis . Eu quis as suas histórias, eu quis a sua bagagem, eu quis os seus traumas, eu quis os seus medos, quis entrar nos sonhos e te acordar de seus pesadelos. Eu quis a sua família, a sua alegria, o seu sono e o seu despertar. Eu quis o seu passado, cada gota que escorre do seu corpo: lágrima, saliva e suor. Eu quis seus

Sem mensurar muito bem, você foi de longe a coisa mais gostosa que já vivi. Existem cenas que o tempo não apaga, mas existem cenas que o tempo simplesmente para. E você congelou meu tempo, meu passado, os meus medos, minhas verdades e até meus velhos planos. Em contrapartida aqueceu os meus sonhos, reacendeu minha chama e derreteu o meu corpo inteiro. Fragmentos de almas rompidas, numa cósmica diferente, encontro de polos que se equilibram. Eu te procurei todos os dias, meu amor. Era você que faltava nas tardes vazias, nas noites de insônia, nos papos manjados, nos jantares sem sal, naquela estrada maneira, nos meus pores-do-sol preferidos, naquela caminhada beira mar, em cada corda do meu violão, nos meus fones de ouvido, nos perfumes enjoativos, naquela piada sagaz que ninguém entendeu e era você meu amor, que faltava quando eu abria os olhos todos os dias de manhã. Eu já te adorava, eu já te sentia, sua ausência já ecoava e tua existência eu já pressentia. Que cor é essa que v

E ai você se distrai, está completo e aparentemente feliz. Tudo vai bem, obrigado! Só que o destino chega sem pedir licença, mete o pé na porta e te mostra que a felicidade ainda estava por vir... E te materializa tudo de que há de mais bonito , busca nos teus sonhos as raízes mais profundas, une toda a essência em forma de alguém; e te presenteia, assim, sem mais nem menos. Um meteoro de maravilhas , ali, na sua vida, devastando tudo, colidindo com todas as outras realidades, antes perfeitas, agora mornas e insossas. E são aqueles lances sobrenaturais, que fogem a lógica e nos roubam o sono tentando entender. E não dá. E não vamos... Porque certas coisas na vida acontecem para não entendermos, para bagunçar, pra mexer o açúcar parado no fundo do nosso copo, pra desmontar-nos por completo e nos conceder a chance de remontar muito melhor. E ai a vida ganha cor, o vento perfume e as palavras sabores. O coração já não bate, ele dança, porque tudo é música, tudo é ritmo, tudo fica

As vezes entro em estado de letargia. Fico observando – e absorvendo- pessoas e seus comportamentos; gosto dos triviais, acredito que na rotina se esconde certa magia. Porém, infelizmente, ha também tanta mentira. Milhares de beijos, abraços, apertos de mãos... Todos tão cheios de nada. Muita gente se tolera por conveniência. Falta verdade, falta entrega, falta coragem pra ser e sentir o que se é de fato. As conversas andam tão repetitivas e cada vez mais, as perguntas se dão por obrigação, sem nenhum interesse real nas respostas. Somos uma porção de singulares sem noção nenhuma do coletivo. Amontoados, descabidos, enroscados e desprotegidos. Quisera eu poder sentar e ouvir todas as pessoas. Perguntar o verdadeiro: ” Tudo bom com você?” e olhar atentamente aguardando a resposta de dentro sabe? Pra então ser mútuo, pra ter essência. Mas não posso, sou pouca, sou escassa. Rogo ao Céu uma geração nova, de corações quentes, de gente que é gente, que se importa, que se doa, que s

Aprendi a gostar de você da plateia. Já roubei muito a cena e não segurei a onda. Alias, a única coisa que segurei foi o tranco. E foi cada um, que me deixou bamba até hoje. Você é do tipo de cara que se ama de longe, se protege por fora e nunca, jamais, se cobra presença; Tem gente que nasceu para amar e gente que nasceu para ser amado. Eu e você, nessa exata ordem dos fatos. Vou te amparando, te cuidando, te ensinando dia a dia de uma forma tão sútil, quase imperceptível a olhos nus. E assim fui ficando, amando por amar, sem esperar nada em troca. Porque amar é isso meu bem, doar-se por doar. O prazer de quem ama está ai, no desprender-se em prol do outro. Seu sorriso, meu sorriso. Seus sonhos, meus sonhos. Suas alegrias? Triplicam as minhas. Isso te pareceria ridículo, eu sei, mas você não nasceu para amar, nasceu pra ser amado. Em uma matemática simples; obrigada por deixar pra mim a melhor parte da vida. Vital,V.

Por vezes na vida, é necessário renovar as energias contidas – e sufocadas – que carregamos dentro de nós. Para isso, precisamos dar vazão há algumas vontades, colocar em prática desejos interrompidos, realizar um sonho aqui e outro ali. Entende? Fases de estafa mental e sentimental acontecem com todo mundo e são necessárias para equilibrar o turbilhão que carregamos no peito, não nego.  Mas nunca fizeram minha cabeça! Com os anos me aquietei bastante e tenho tentado descansar minhas emoções, porém tem horas que situações fogem ao nosso controle; e é ai, exatamente ai que eu gosto. Adoro situações que descabelam, que reviram, que desmontam, que nos colocam a prova. Gosto de gente que chega sem pedir licença, que senta na minha janela e deixa minha vista muito mais colorida. Preciso disso, me desculpe, mas meu “groove ” – está nessa troca, nessa energia que transforma, que traz hálito novo pro respirar. Tem gente que vem com tinta nas mãos, colorindo de forma peculiar n

Ela está mal humorada, o shampoo novo que prometia o liso absoluto deixou seu cabelo pesado, com um aspecto oleoso logo após a lavagem. O dia no escritório já começou quente, mas o café que demorou 30 minutos pra sair não. Pelo menos o cookie não decepciona e dá uma segurada na onda. Relatório não está como gostaria, mas passou a noite com cólicas terríveis e entre bolsas térmicas, planilhas e analgésicos, fez o que deu. Reunião as 09:00, salto quebrou . Merda. Caminhando disfarçadamente numa meia ponta de pé, entra com jeito para não arrepiar os acionistas com o barulho alucinante do seu quase salto. Senta na ponta da mesa, abre seu laptop e inicia a reunião. Conduz cheia de propriedade, apresenta o cenário financeiro e indica os próximos caminhos a serem tomados, enquanto arranca compulsivamente a cutícula  e descasca a ponta do esmalte. Ao levantar-se percebe sua meia calça desfiada e entre a angustia do ocorrido e a satisfação do bom trabalho apresentado, retoma para sua

Hoje eu não vou comer doce e nem te cumprimentar. Quero meia duzia de  ansiolíticos  coloridos. Você é uma dieta irritante, que corrói. Mas eu já fiz coisas BEM piores nessa vida, meu bem. Você não é nem o melhor e nem o pior. Você só é . Assim, mais um... mais um babaca egoísta que tropeça no meu caminho e insiste em ficar. E porra, como eu dou murro em ponta de faca. Faca cega, que não vê o quanto eu te faria melhor.  Mas maior que sua cegueira é minha burrice. Burra,burra , emocionalmente estupida. Rastejante pelas migalhas que voam a cada volta que você me dá, alimento-me de nada, causando uma sobrevida. Desnutrida, busco forças no sobrenatural para me livrar  de você e todo mal que me causou. Chega! Se for pra cair, que eu caia no chocolate, afinal ele é bem mais gostoso que você. Vital,V.

Hoje eu vou sair, preciso de uma dose de luzes neon, ofuscadas pelos flashes da luz negra que deixa os sorrisos mais brancos e as pessoas mais interessantes. Estou afim de alguns drinks, desses caros e com nomes difíceis de pronunciar, que tem sabores similares e deixam as pessoas mais interessantes. Preciso ouvir aquele “ tuntz tuntz” que inebria, envolve , transcende, dá asas ao corpo e deixa as pessoas mais interessantes. Quero estar bonita, atrair olhares, ouvir coisas boas, conquistar, sorrir dissimulada, ser conquistada, achar as pessoas mais interessantes. Ando de saco cheio de tudo, de todos, dos clichés, das modinhas, desse exercito de “stormtroopers”  sem individualidades, dessa massa encefálica de grupos manipulados e pré formatados. Sinto saudades dos sonhos, dos planos, das loucuras ,das peculiaridades e das esquisitices que tornam as pessoas menos fatigantes. Uma assimetria falsa, demagoga, que encoberta os defeitos de uma humanidade que já veio corrompida. A

Não, eu não deixei de gostar de você, se é isso que quer saber! Eu ainda me encanto com suas opiniões infundadas e incoerentes, acho graça da sua mania de saber um pouco de tudo e tão pouco de nada. Quando te ouço falar baixinho bem perto do meu rosto, de qualquer assunto rotineiro, ainda me sinto magnetizada pelo seu hálito e a vontade de beijar sua boca toma conta dos meus sentidos. Te ver falando com os outros, sempre foi uma mistura de admiração e ciúmes. Você é tão articulado e cativante que ao mesmo tempo que inebria minha atenção, me desperta uma posse tamanha que chego a pensar em te arrancar dali com fúria. Eu aceitei, eu entendi, eu acolhi. Mas não; Não me conformei. Não faz sentido não estarmos juntos, sabe? Somos tão fortes quando estamos unidos. São polos que se atraem, nosso choque é térmico, é erupção. Nossos planos são foda, nossa cama é tamanha,  nosso drama é similar, nosso jeito é tão nosso, nosso paladar é ritmado, nosso humor é completo. Nós somos. Eu

Eram tantos papos disponíveis por ai; tinha blues, tinha Picasso, tinha Leminski ( Ahh Leminski!) e também tinha Caetano. Pintava astrologia, tropeçava em geopolítica  e me encantava com cordel. Todos me enchiam os olhos e abriam o apetite, mas ainda assim, eu quis o seu. Era simples, despretensioso,  trazia previsão do tempo, os heróis dos quadrinhos, suco de caju, música brega que sacoleja por dentro e um romantismo quase velado. Haviam também sorrisos vagando por ai. Sempre tive queda por essa curva suave cheia de significado que temos no rosto e mais ainda pelo poder de transfigurar feições que ela carrega. Vi um mais bonito que o outro: convidativos, insinuantes, maliciosos e cativantes. Mas ainda assim, escolhi o seu, que se abria pelo simples fato da  minha chegada. Sei que de todos os abraços que experimentei, no seu, eu cabia inteira e não tinha vontade de sair. E de todos os beijos, o seu me tocava a alma. Todos os toques, o seu arrepiava cada fio do meu corpo e de t

São Paulo, 22 de janeiro de 2016. Prezado Senhor Coração, boa tarde! Precisamos conversar... Sei que há tempos venho testando sua resiliência e capacidade de superação e preciso-lhe dizer: parabéns! Parabéns por estar batendo, parabéns por estar mais forte do que nunca e por mais sentimentos que você seja, sempre deu ouvidos ao nosso amigo cérebro para resolver as emboscadas em que te coloquei. Sinto que a cada nova experiência, sua dilatação é notável e abraça de forma carinhosa cada uma delas. Queria desculpar-me pelas inúmeras vezes que minha imprudência te machucou, como quando lhe entreguei de mãos beijadas a pessoas que não eram dignas de receb ê -lo. Eu erro muito, você bem sabe, e só acerto quando dou voz ao que me diz. Desculpas também por sufocar lhe com meus medos, por não  deixar pulsar o sangue pelo resto do corpo.   Minha covardia sempre nos atrapalhou!                                                                                                

Estou feliz! Quanto? O suficiente. Porque? Porque felicidade demais me assusta. Ai chega você, com seus olhos pequenos e um sorriso de lado, cheio de dúvidas e medos velados e num piscar de olhos por trás dos óculos me desmancha por completo. Daquele tipo sutilmente perigoso, delicadamente indecente e racionalmente imprudente, foi me tirando o prumo, o folego, a roupa e finalmente o juízo. A gente tenta evitar o inevitável, dosar o que mais queremos e pra que? Pra chegar lá na frente e jogar tudo pro alto. Eu quis você, logo de cara, mas eu quis muito sabe? Neguei pra mim, neguei pra você, neguei pros que nos rodeavam. Neguei, fui firme; rompeu. Agora chega de esperar, vamos adentrar juntos nessa vontade louca que nos aproximou, vamos dar vazão ao imã e aos desejos. Te quero hoje, por inteiro, e amanhã? Também . Minha cilada favorita, meu erro mais querido, seja bem vindo, acolho seus beijos, planos e danos. Se der errado? Impossível dar errado, algo que de primeir

Engraçado como sempre começo um texto achando algo “engraçado." Mas é que eu acho graça de tanta ironia sabe? Das pessoas, das circunstâncias e principalmente do destino . São tantas peças pregadas, que eu precisaria de uma vida a mais para montar esse “quebra-cabeça." Já repararam a dança do tira-e-põe que acontece diariamente com todos nós? Pessoas entram e saem de nossas vidas sem ao menos pedir licença, sem perguntar se tudo bem, se estamos preparados pra essa transição. Temos de estar alertas o tempo todo, constantemente preparados para rupturas e invasões; abruptas e traumáticas na maioria das vezes! Dizem que somos frágeis, mas não nos é permitido de fato ser. Com isso, as  cascas  engrossam, os calos enrijecem a cada colisão emocional e nossa armadura se fecha gradativamente até nos sufocar. Mas o que fazer? Pra onde fugir. Não há; Não tem; Não pode! Como músculos exercitados, nos toramos mais fortes de tanto pegar força, levar tranco. Aprendemos que