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Posições

Vivo em uma eterna provocação. 
Quando alguém naturalmente se posiciona, desperta nos outros a busca incessante da sua bendita "opinião".
Percebo claramente uma massa carente de representações. Pessoas que sentem muito e falam pouco. Talvez por não saber, talvez por assim temer ou quem sabe pra não se comprometer. O fato é: alguém tem que falar.
Não sei se você é ativo ou passivo na arte, se é percursor ou é meramente expectador, mas vou falar por mim;  me escraviza.
Sempre fui a primeira a levantar a mão, a me colocar na frente, a responder de prontidão, a me doer pelos meus,  a dissertar sem limites e por ai vai. Carrego em mim um turbilhão de teorias opiniosas e esquisitamente fundamentadas. Porém, o peso das vozes caladas, gritantes na minha cabeça ecoam e sobrecarregam minhas costas, diariamente cansadas pelo peso da idade, pouca, mas que ainda há de vir.
Essa obrigatoriedade de ter que “ser” e provar o tempo todo aprisiona os que se dizem livres para falar. Por vezes, eu só queria ficar quieta, não pensar, não formular, não me impor, não me expor.

Entrar de cabeça num estado de letargia talvez; uma estafa mental me cairiam bem. Mas eu me viciei em opiniões, e muito pior, viciei diversas pessoas que precisam dela, da minha voz, da minha cara a tapa, do meu risco do possível ridículo, da minha exposição escrachada e do meu ímpeto estupido. E eu tenho que estar lá, com metáforas, textos, planos, saídas e medidas cabíveis. E assim vou levando, entrando, rasgando, rompendo e tecendo, me cansando, frustrando, aprendendo e retomando. Deve ser isso, essa tal de vida, a minha talvez. Mas enfim, não é uma reclamação, com o perdão do trocadilho, é só a minha opinião.




Vital, V.


Comentários

Os queridinhos.

Eu precisava ter...

Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

Eu chorei pelo sistema.

Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”. E eu chorei.     Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral] Venho chorando desde então   - dia após dia -   de forma lancinante e,  desculpem-me a sinceridade, mas um tanto quanto colérica. Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond, com Flaubert e Assis. Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e Marx. {Choro as lágrimas de Brecht.} Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.   Choro  ainda mais pelo João, pelo Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...) . Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados foram e já estão condenados a exploração. Choro pela injustiça masca

E de repente passa...

E de repente passa... A dor que esmagava o peito, tirava o ar, embrulhava o estômago, passa... A saudade que mastigava, que corroía, que desbaratinava  simplesmente passa... O medo que cegava, que infiltrava, que assombrava... Passa também! E tudo aquilo que achávamos que nos mataria, vai se esvaindo, assim, como um copo trincado que perde lentamente a água e quando nos damos conta, já está vazio. Eu me esvaziei de você e nem me dei conta. Quando lembrei de ter saudades, eu já não a tinha mais. Deve ter pulado para outro coração. A tristeza já não mora mais aqui e eu não sei de seu paradeiro. Espero que ninguém encontre. E você, que era meu tudo, simplesmente não é  mais nada. Nada além de um vazio gigante que ficou no lugar de sua partida. Não dói, não fere, nada. Só é estranho, esquisito não ter você aqui me tirando o sono. Essa paz ensurdecedora é nova, preciso me adaptar a ela, afinal, por longo período, a única coisa que conhecia de cabo a rabo era o mal que me fa