Eu precisava ter...

Histórias no Divã

Sou do tipo de pessoa que os centrados e equilibrados tem desespero. Daquelas que só de olhar, os faz perder o equilibro e desperta do fundo da alma a vontade de me agarrar pelo braço e chacoalhar aos berros: Para!! Para!!

Prato cheio para os "psics" da vida.

Em uma das minhas milhões de tentativas de psicanálise, a doutora da vez,  me questionou: "Quantas pessoas habitam dentro de você?". Sorri. Me desesperei.

Há pelo menos uma dúzia de seres completamente opostos aqui dentro, habitando meus desejos e transformando meu interior em um perfeito caos. A doce princesa da mamãe, desceu da torre sem esperar merda de príncipe nenhum,  cortou o vestido bem curto, chutou a canela do guarda, roubou seu cavalo e desde então começou uma cavalgada em alta velocidade,  de braços abertos, sorrindo pro vento que dança com seus cabelos, em busca do seu conto de fadas, onde a participação de bruxas,  dragões,  bandidos cruéis são bem vindos também. Ela precisa disso.

Onde o príncipe  pode ser um barbudo ranzinza sentado em alguma taverna do vale, bebendo sua cerveja amanteigada e palitando os dentes com a ponta da espada.

Essa princesa foi criada em berço de ouro e a nobreza do sangue azul,  mas que pena,  o dela era azul calcinha e do tipo fio dental.

Ela não tinha um rumo certo, não sabia pra onde ir, mas tinha convicção pra onde não voltaria jamais.

Ela gosta de música,  flores,  beijos e amores. Gosta de poesia e romantismo. As vezes é piegas e assume com bravura suas meninices. Em contrapartida é brava, geniosa, irritante e mandona. Dos bailes na corte aos bailes na noite. Só se sabe,  que desde sua fuga do castelo, comenta-se sobre os tumultos causados por onde passou.

Abri os olhos, ainda no divã e respondi a minha psicanalista com ar de contentamento:-“Não sei quantas habitam em mim doutora, mas de uma coisa eu sei, não abro mão de nenhuma!”.

Vital, V.