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Vencida por um sorriso-Parte 2

... em uma sexta-feira comum, dessas que não se espera nada, em uma súbita ação insana finalizei um de nossos e-mails rotineiros e estritamente profissional, com um ousado “Tenha um bom final de semana! Beijos “. Nossa, que loucura a minha, senti meu rosto pegar fogo, meus braços formigarem e minhas pernas bambearem. O Sr. Sorriso me desestabilizava por completo.
Final do dia, já arrumava minhas coisas para ir embora, quando o chat interno da empresa piscou, abri sem dar muita bola, afinal, só me chamam ali para perguntarem previsões de pagamentos ou se eu trouxe creme dental.

M. F diz:
- Espero realmente que seja um bom final de semana! =/

Sabe aquele momento que você paralisa e seus músculos atrofiam? Não? Não queira saber. Era Sorriso falando comigo, com um ar triste, como um desabafo. Em meio ao tufão que acontecia em meu interior, fui corajosa e iniciei o diálogo:

B.C diz:
- Será, não tenha dúvidas disso! =)

... ( M.F digitando...)
Coração com mini infartos consecutivos.

M.F diz:
- Com um desejo sincero como esse, vou me esforçar para acreditar nisso!

B.C diz:
- Não parece a pessoa que vejo o tempo todo sorrindo! É você mesmo? rs

M.F diz:
- E você não parece aquela pessoa que nem olha para os lados a ponto de me perceber! É você mesma? Rsrs
                                                                                                                                                                                                                            
Ruborizei. Sorri instantaneamente.

B.C diz:
- Nem sempre somos aquilo que transparecemos! Cada um se esconde e se protege atrás do que se sabe: sorrisos, concentração, etc...

M.F diz:
- Me deixou sem palavras...

B.C diz:
- Um feito eu diria, hein? Nunca imaginei essa situação! rs

M.F diz:
- E você se esconde porque? Ou melhor, de quem?

Me perdi. Chega.

B.C diz:
- Papo para outro dia! Estou de saída...

M.F diz:
- Desculpe...

B.C diz:
-Se cuida!

M.F diz:
- Espera...

B.C diz:
- O que?

(MF está digitando...)

Coração já saiu do corpo e voltou 8 vezes.

M.F diz:
- Você tem compromisso hoje? Desculpe se estou sendo inconveniente.

As vezes queremos tanto algo, que a utopia é mais fácil de lidar do que o fato em si. Há tempos eu acordava e dormia com este sorriso na cabeça, acompanhava com dedicação cada passo, cada gesto, cada expressão e em um segundo, tudo aquilo que eu mais ansiava, estava ali na minha frente, e por um impulso absolutamente  absurdo, respondi:

B.C diz:
-Sim!

M.F diz:
- :(  Ok, bom final de semana!

M.F está off-line.

Cai em uma tristeza profunda e me amaldiçoei com toda a força.

Já no estacionamento, avistei sorriso dentro de seu carro. Ele estava de com os braços na cabeça, o som estava ligado e os vidros fechados.
Meu coração apertou, larguei tudo no banco do meu carro e fui na direção dele.
Bati em seu vidro, ele se assustou, mas em questões de segundos escancarou o sorriso e abaixou o vidro. Encorajei-me (ou enlouqueci) e disse:
-Mudei de idéia! Estou disponível!



To be Continued...


Vital.V.

Comentários

Os queridinhos.

Eu precisava ter...

Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

Eu chorei pelo sistema.

Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”. E eu chorei.     Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral] Venho chorando desde então   - dia após dia -   de forma lancinante e,  desculpem-me a sinceridade, mas um tanto quanto colérica. Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond, com Flaubert e Assis. Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e Marx. {Choro as lágrimas de Brecht.} Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.   Choro  ainda mais pelo João, pelo Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...) . Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados foram e já estão condenados a exploração. Choro pela injustiça masca

E de repente passa...

E de repente passa... A dor que esmagava o peito, tirava o ar, embrulhava o estômago, passa... A saudade que mastigava, que corroía, que desbaratinava  simplesmente passa... O medo que cegava, que infiltrava, que assombrava... Passa também! E tudo aquilo que achávamos que nos mataria, vai se esvaindo, assim, como um copo trincado que perde lentamente a água e quando nos damos conta, já está vazio. Eu me esvaziei de você e nem me dei conta. Quando lembrei de ter saudades, eu já não a tinha mais. Deve ter pulado para outro coração. A tristeza já não mora mais aqui e eu não sei de seu paradeiro. Espero que ninguém encontre. E você, que era meu tudo, simplesmente não é  mais nada. Nada além de um vazio gigante que ficou no lugar de sua partida. Não dói, não fere, nada. Só é estranho, esquisito não ter você aqui me tirando o sono. Essa paz ensurdecedora é nova, preciso me adaptar a ela, afinal, por longo período, a única coisa que conhecia de cabo a rabo era o mal que me fa