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Vencida por um sorriso - Parte 1

Ele tinha uma explosão dentro da boca (digo no bom sentido, porque no mal, ainda não tinha tido o privilégio de experimentar), um sorriso que derramava um turbilhão de sensações.
Todas as vezes que adentrava algum ambiente, iluminava, contagiava, tomava conta e tornava luz tudo o que tocava.
Sempre tive queda pelos ranzinzas e arrogantes, acho que um leve toque de soberba instiga e atiça minha mente desbravadora, mas com ele não, ele era diferente.
Sua docilidade desarmada , seu bom-humor infantil e pastelão, sua forma de sorrir com os olhos deixando-os minusculamente escondidos, a risada escrachada e sem pudores ou discernimento, uma alegria tão espontânea de ser, que havia sim, derretido meu coração fechado há tempos para balanço;
Não sei se era paixão ou simplesmente admiração. Era muito permeado pela energia que ele emanava. Todos gostavam da presença dele, sabe? Ele era daqueles que roubava o avental da copeira, tirava a senhora da faxina para dançar, trazia uma flor para a moça dos quitutes, perguntava da família do rapaz dos correios, abraçava o pedreiro que reformava a sala da diretoria, tudo isso sem que ninguém visse. Não era para os outros. Era ele. Ele é um ser-humano lindo, de beleza irrevogável e transcendental. Gosto de escutar a forma como se reporta aos superiores, com uma ousadia segura de quem crê piamente que somos todos iguais, com firmeza e propriedade, completando o combo que ferrou com a minha cabeça.
Ele parecia flertar com todas as garotas que trombava, fossem bonitas ou feias, velhas ou novas, pois era gentil e afável com todas, sem exceção.
Menos comigo! Maldito azar o meu.
Tornava-se  tímido, desconcertava-se facilmente, não conseguíamos olhar nos olhos por mais de alguns segundos e gaguejava ao pedir uma caneta emprestada,
Achava curioso que nas trocas de e-mail, ele me mandava “Beijoos”, cheio de letras e entusiasmo, já para todas as outras pessoas, era um apenas um “Forte Abraço”, e eu, na minha timidez absurda respondia apenas:”Att”.
Até que um dia...


To be Continued...


Vital,V.

Comentários

Os queridinhos.

Eu precisava ter...

Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

Eu chorei pelo sistema.

Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”. E eu chorei.     Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral] Venho chorando desde então   - dia após dia -   de forma lancinante e,  desculpem-me a sinceridade, mas um tanto quanto colérica. Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond, com Flaubert e Assis. Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e Marx. {Choro as lágrimas de Brecht.} Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.   Choro  ainda mais pelo João, pelo Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...) . Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados foram e já estão condenados a exploração. Choro pela injustiça masca

E de repente passa...

E de repente passa... A dor que esmagava o peito, tirava o ar, embrulhava o estômago, passa... A saudade que mastigava, que corroía, que desbaratinava  simplesmente passa... O medo que cegava, que infiltrava, que assombrava... Passa também! E tudo aquilo que achávamos que nos mataria, vai se esvaindo, assim, como um copo trincado que perde lentamente a água e quando nos damos conta, já está vazio. Eu me esvaziei de você e nem me dei conta. Quando lembrei de ter saudades, eu já não a tinha mais. Deve ter pulado para outro coração. A tristeza já não mora mais aqui e eu não sei de seu paradeiro. Espero que ninguém encontre. E você, que era meu tudo, simplesmente não é  mais nada. Nada além de um vazio gigante que ficou no lugar de sua partida. Não dói, não fere, nada. Só é estranho, esquisito não ter você aqui me tirando o sono. Essa paz ensurdecedora é nova, preciso me adaptar a ela, afinal, por longo período, a única coisa que conhecia de cabo a rabo era o mal que me fa