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A delícia da simplicidade;


Assumo ser amante das tormentas;  ah a delícia das tormentas!
Sempre me joguei nos  tornados que devastam tudo por onde passam, que desmontam toda a estrutura no primeiro sopro e te desmancham por completo no trepidar.
Porém, há pouco tempo, venho experimentando o frescor da brisa leve da manhã e posso confessar? É interessantemente apetitosa.
Saturada de relações tórridas, doentias e extremas, de entrega dilaceradora, é inevitável o encantamento com pessoas leves, simples e divertidas.
Oh Céus, como os jogos já me parecem chatos, o flerte demasiadamente subjetivo cansativo, as regras pré-estabelecidas e meu discurso requintado e provocativo não me fazem mais a cabeça; Quando nos deparamos com alguém que não quer perder tempo, que dispensa cerimonias, que não segue rituais, que simplesmente quer você, sem cobrar nada, sem querer mudar nada, aceitando (e adorando!) tudo o que você traz no seu pacote, ai sim, nos deleitamos de uma relação saudável, prazerosa (sim, o prazer rege essas relações!) e genuína.
Experimentar a leveza de ser, ser admirada sem precisar citar meu trecho preferido  de Dostoievski (ele nem sem importa com isso!), ser desejada simplesmente porque me acha bonita (e gostosa! Forma deliciosamente esdruxula que me chama e me arrepia dos pés a cabeça!), gastar nossas energias apenas com nossos corpos e não com nossos problemas, oferecer ao outro apenas o que se quer, se dar na medida mais confortável e ainda assim, estar de bom tamanho.
Não quero ser o amor da vida, a razão do respirar, a cura dos males, não, não, nada disso!
Quero você de cabelo molhado me olhando indecentemente, quero fugir na semana pra te encontrar, quero rir da cara das pessoas olhando pra gente, quero seu sussurro quente no pé do meu ouvido, quero aquela mensagem simples cheia de vontade, quero todos os seus dedos, dentes, pelos, pele e apelos.
Que seja breve ou duradouro, tanto faz, dessa vez eu não me importo, não tem script, não tem cobranças, é despido de anseios e é por isso que quero mais:

Mais risos, mais beijos, mais toque, mais você!
























Vital,V.

Comentários

Os queridinhos.

Eu precisava ter...

Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

Eu chorei pelo sistema.

Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”. E eu chorei.     Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral] Venho chorando desde então   - dia após dia -   de forma lancinante e,  desculpem-me a sinceridade, mas um tanto quanto colérica. Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond, com Flaubert e Assis. Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e Marx. {Choro as lágrimas de Brecht.} Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.   Choro  ainda mais pelo João, pelo Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...) . Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados foram e já estão condenados a exploração. Choro pela injustiça masca

E de repente passa...

E de repente passa... A dor que esmagava o peito, tirava o ar, embrulhava o estômago, passa... A saudade que mastigava, que corroía, que desbaratinava  simplesmente passa... O medo que cegava, que infiltrava, que assombrava... Passa também! E tudo aquilo que achávamos que nos mataria, vai se esvaindo, assim, como um copo trincado que perde lentamente a água e quando nos damos conta, já está vazio. Eu me esvaziei de você e nem me dei conta. Quando lembrei de ter saudades, eu já não a tinha mais. Deve ter pulado para outro coração. A tristeza já não mora mais aqui e eu não sei de seu paradeiro. Espero que ninguém encontre. E você, que era meu tudo, simplesmente não é  mais nada. Nada além de um vazio gigante que ficou no lugar de sua partida. Não dói, não fere, nada. Só é estranho, esquisito não ter você aqui me tirando o sono. Essa paz ensurdecedora é nova, preciso me adaptar a ela, afinal, por longo período, a única coisa que conhecia de cabo a rabo era o mal que me fa