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Penhasco.

A dor de cair de um penhasco é lenta, tem uma vista linda, causa vertigem e calafrios,  dá a esperança de possíveis asas e tempo de pensar. Mas é fatal. E quando colide com o solo, meu amigo, não sobra um pedaço pra contar história. Aliás, que coleção de histórias fizemos juntos não?
Assim é a decepção certeira. São relações que entramos já fadadas ao fracasso e mesmo com essa ciência, arriscamos e arremessamo-nos de corpo – e pior!- e alma.
Amores não são escolhidos, são plantados pelo destino, germinam no cair da noite e quando amanhecem dentro de nós, já não há mais o que fazer. Pena que o seu era mau e só floresceu em mim, erva-daninha.
A dor só deixa de ser dor, quando a sente-se inteira e como em uma contração renal parece que vamos morrer; e não morremos!
O extremismo faz parte de mim, nunca amei pouco, nunca sonhei baixo, nunca deixei de planejar e isso tudo nunca me poupou de sofrer muito. Ser estilhaçada virou praxe, o que me conforta dessa vez na esperança de sobreviver.
Eu sabia que a queda aconteceria, tentei bater meus braços o máximo que pude, mas que boba; não sou pássaro. A única asa que eu tinha, era da nossa imaginação.
Cai, doeu, morri, já deu. Renasça fênix adormecida, essas cinzas são tua história, e o sangue espalhado, em cada gota tua glória.

Ainda assim, me levanto, ainda assim eu canto, ainda assim há encanto, sem temer, sem entender, ressurge minha velha mania de querer novamente viver e ainda que me falte todo o ar, acredito burramente: eu nasci para amar.




Vital. V.

Comentários

Os queridinhos.

Eu precisava ter...

Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

Eu chorei pelo sistema.

Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”. E eu chorei.     Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral] Venho chorando desde então   - dia após dia -   de forma lancinante e,  desculpem-me a sinceridade, mas um tanto quanto colérica. Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond, com Flaubert e Assis. Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e Marx. {Choro as lágrimas de Brecht.} Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.   Choro  ainda mais pelo João, pelo Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...) . Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados foram e já estão condenados a exploração. Choro pela injustiça masca

E de repente passa...

E de repente passa... A dor que esmagava o peito, tirava o ar, embrulhava o estômago, passa... A saudade que mastigava, que corroía, que desbaratinava  simplesmente passa... O medo que cegava, que infiltrava, que assombrava... Passa também! E tudo aquilo que achávamos que nos mataria, vai se esvaindo, assim, como um copo trincado que perde lentamente a água e quando nos damos conta, já está vazio. Eu me esvaziei de você e nem me dei conta. Quando lembrei de ter saudades, eu já não a tinha mais. Deve ter pulado para outro coração. A tristeza já não mora mais aqui e eu não sei de seu paradeiro. Espero que ninguém encontre. E você, que era meu tudo, simplesmente não é  mais nada. Nada além de um vazio gigante que ficou no lugar de sua partida. Não dói, não fere, nada. Só é estranho, esquisito não ter você aqui me tirando o sono. Essa paz ensurdecedora é nova, preciso me adaptar a ela, afinal, por longo período, a única coisa que conhecia de cabo a rabo era o mal que me fa