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Meu NÃO para você.

Hoje eu resolvi te esquecer.
Sabe, quando ama-se demais, doa-se demais, entrega-se demais, desgasta-se demais e por fim, machuca-se demais.
Acho injusta a lógico do amor, veja só: sempre que não escolhemos amar alguém, que sobressai a nossa vontade e a nossa lucidez, esse, justo esse amor, é que nos exige escolha em esquecer.
O velho cliché do “eu odeio o fato de não conseguir te odiar”. Poxa, eu deveria. Você é detestável, não faz bem, não é tudo isso -é tão pouco, abaixo na média –e foram todas essas imperfeiçoes e deficiências, essas carências, essas lacunas vazias implorando por amparo, que me fizeram de quatro por você. E agora? De quatro, engatinha-se em  busca de salvação; Eu sabia que ia me dar mal, você é o avesso do que faz bem – eu sei, você me avisou, mas parecia tão sexy e desafiador no inicio – e agora preciso me livrar de você e de todo o estrago que fez em mim.
Hoje, eu decidi dizer não. Não para seu sorriso (lindo!), não para seu abraço, não para o papo divertido e cheio de malícia, não para a pausa para o café, não para a mensagem de bom dia, não para os planos até o final do ano, não para a corridinha fim de dia, não para meu impulso de forjar um encontro casual no corredor para você me dar uma piscadinha e uma troca rápida de provocações, não para seu jogo sujo, não para seu domínio mental sobre mim, não para sua grosseria gratuita, não para forma que você me levanta no pedestal mais alto e me arremessa sem dó, não para sua síndrome de Peter Pan e o fato de não crescer nunca.

Hoje você não vai me ter, hoje você não vai me reter e, por decisão, hoje você não vai me descartar. Eu digo meu primeiro, talvez único e definitivo não para você. Hoje eu NÃO quero mais você.























Vital, V.

Comentários

Os queridinhos.

Eu precisava ter...

Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

Eu chorei pelo sistema.

Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”. E eu chorei.     Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral] Venho chorando desde então   - dia após dia -   de forma lancinante e,  desculpem-me a sinceridade, mas um tanto quanto colérica. Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond, com Flaubert e Assis. Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e Marx. {Choro as lágrimas de Brecht.} Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.   Choro  ainda mais pelo João, pelo Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...) . Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados foram e já estão condenados a exploração. Choro pela injustiça masca

E de repente passa...

E de repente passa... A dor que esmagava o peito, tirava o ar, embrulhava o estômago, passa... A saudade que mastigava, que corroía, que desbaratinava  simplesmente passa... O medo que cegava, que infiltrava, que assombrava... Passa também! E tudo aquilo que achávamos que nos mataria, vai se esvaindo, assim, como um copo trincado que perde lentamente a água e quando nos damos conta, já está vazio. Eu me esvaziei de você e nem me dei conta. Quando lembrei de ter saudades, eu já não a tinha mais. Deve ter pulado para outro coração. A tristeza já não mora mais aqui e eu não sei de seu paradeiro. Espero que ninguém encontre. E você, que era meu tudo, simplesmente não é  mais nada. Nada além de um vazio gigante que ficou no lugar de sua partida. Não dói, não fere, nada. Só é estranho, esquisito não ter você aqui me tirando o sono. Essa paz ensurdecedora é nova, preciso me adaptar a ela, afinal, por longo período, a única coisa que conhecia de cabo a rabo era o mal que me fa