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Amores Improváveis

Era desses amores improváveis, sem a menor chance de dar certo e isso fazia ela gostar mais.
Ela não era nada do que ele gostava, do que ele queria, do que ele esperava e isso fazia ela gostar mais.
Ele era a exceção da vida dela, estereótipo avesso ao seu ideal e isso fazia ela gostar mais.
Era utopia e platônico, acredito de ambos as partes
Ela pensava: Não pode ser.
Ele pensava: Não é possível.
Magnetismo, ciúmes, cuidado, desejo, horas corridas divididas em saliva, risos e discussões.
Amizade mascarada, subentendida, única saída para simplesmente estarem. Atração velada no silêncio do olhar. Ah o olhar, esse o qual ambos desvendavam-se com uma facilidade peculiar.
Troca de farpas, devaneios insanos, beijos por engano, sufocando a cada dia o desejo do  “eu te amo”.
Joguinho babaca, infantil de pega-pega, esconde-esconde, siga o mestre e gato mia, quando na real o que ela mais queria era pegar muito, esconder-se do mundo, seguir o mesmo mestre e gritar pro mundo todo: esse gato não mia, esse gato é meu!
Duas cabeças duras, corações moles, gênios difíceis, orgulho absurdo e a ciência de que já não dava  mais sem o outro – era só o que tinham em comum-
Ele fingia não ligar, ela fingia ir embora, ele ia verdadeiramente buscar e ela adorava voltar.
Tudo meio nocivo, esquisito, vicioso, pegajoso, intenso, imenso e doloroso.
Eles escolhiam caminhos opostos na vida, mas que droga, de algum jeito sem querer se trombavam na esquina.
Nesse chove e não molha, eles vem se arrastando, há mais de ano essa história, dia a dia se amando, de um jeito muito estranho, relação transcendental, desafiando toda a lógica, mais unidos que qualquer casal.





Vital, V.

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