Era uma manhã como outra qualquer. Estava na minha sala,
ouvindo algum podcast sobre signos e
zerando o tetrix que são as agendas
dos diretores.
Ainda que de máscara, eu sempre abro meu maior sorriso para
as pessoas que cruzam meu caminho. Não sei se é síndrome de Disney ou se de
fato tenho um bom coração. Enfim, tanto faz!
Vou chama-la de Força, para não expor sua identidade. Força
trabalha na área da limpeza e vem todos os dias limpar minha sala. Força sempre
elogia minha roupa e o meu cabelo. Força enche minha sala de luz quando entra.
Risadas altas, bom humor e uma palavra de afeto. Coisa boa. Coisa rara. Hoje,
quando Força chegou, eu estava ao telefone. Apenas sorri e acenei com a cabeça.
Já quase na hora de ir, eu desliguei a ligação e disse: “Bom dia minha linda!” –
ela prontamente me retribui e disse: “Parabéns por ser assim...”
Senta e sente comigo...
Eu disse que não merecia aquele Parabéns! Que isso era o
mínimo que uma pessoa deveria fazer. Que ela tinha tanto valor pra mim quanto
os cargos mais altos da empresa. Que o valor que eu dava as pessoas de nada
tinha a ver com sua posição ou status. Tinha a ver com suas almas.
Força mareou os olhos e disse: “As pessoas não fazem ideia do que passamos, eu por trás dos meus risos alegres e músicas desafinadas, e você, atrás dessa gentileza maquiada e saltos altos.”
De fato, força estava certa.
“Ele é pobre, preto e mora na favela! É bandido.”
Força quase morreu de dor. Pelo filho, pela maldade, pelo
racismo, pelo sistema.
Vital, V.
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