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Prólogo

 

Eu abri um arquivo em branco. Decidi que quero escrever um livro sem ter medo de compartilhar com o mundo.

Sim, eu tenho um livro escrito que não deixo ninguém ler; por apego, insegurança, enfim...

Todo começo de ano eu abro meu arquivo imaginário em branco e coloco minhas metas, que raramente alcanço: emagrecer, fazer inglês, academia, entre tantas outras, está sempre lá, no cantinho do meu rodapé o tão sonhado “escrever um livro”.

E cá estou eu, escrevendo tudo isso aqui, no arquivo que abri para começar meu livro. Seria cômico se não fosse trágico. Eu tenho uma infeliz mania de procrastinar. Acho que é auto boicote. Medo de não ser reconhecida boa, em algo que me considero ótima. Entende?

Desculpa, eu estou confusa. Sei que você acha um charme minha confusão, mas ela não é. É caótica e irritante.

Eu queria escrever sobre amor, pois se tem arte que eu domino, é essa: de amar. Em todas as semânticas. Mas automaticamente eu escreveria sobre a dor, pois ela é o fruto que mais rendeu, toda vez que decidi amar.

Eu queria contar minha história. Mas quem veria relevância nisso?

Eu queria inventar uma história, para ser dona do fim ao princípio, nessa exata ordem invertida.

Eu queria ser dona do tempo. Nem que fossem em umas duzentas páginas em branco.

Eu queria brincar de Deus pra testar minha intuição.

Eu queria ser compreendida, sem que eu precisasse me explicar.

Eu queria que você fingisse que não leu nada disso e encarasse essa parada comigo.

Eu quero agora, que você solte a minha mão, que você segurou até aqui sem perceber e adentra-se no meu universo, que está logo ali na próxima página.

É melhor conferir, porque a chance de eu ter desistido novamente é imensa.





Vital, V.

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Os queridinhos.

Eu precisava ter...

Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

Eu chorei pelo sistema.

Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”. E eu chorei.     Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral] Venho chorando desde então   - dia após dia -   de forma lancinante e,  desculpem-me a sinceridade, mas um tanto quanto colérica. Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond, com Flaubert e Assis. Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e Marx. {Choro as lágrimas de Brecht.} Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.   Choro  ainda mais pelo João, pelo Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...) . Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados foram e já estão condenados a exploração. Choro pela injustiça masca

E de repente passa...

E de repente passa... A dor que esmagava o peito, tirava o ar, embrulhava o estômago, passa... A saudade que mastigava, que corroía, que desbaratinava  simplesmente passa... O medo que cegava, que infiltrava, que assombrava... Passa também! E tudo aquilo que achávamos que nos mataria, vai se esvaindo, assim, como um copo trincado que perde lentamente a água e quando nos damos conta, já está vazio. Eu me esvaziei de você e nem me dei conta. Quando lembrei de ter saudades, eu já não a tinha mais. Deve ter pulado para outro coração. A tristeza já não mora mais aqui e eu não sei de seu paradeiro. Espero que ninguém encontre. E você, que era meu tudo, simplesmente não é  mais nada. Nada além de um vazio gigante que ficou no lugar de sua partida. Não dói, não fere, nada. Só é estranho, esquisito não ter você aqui me tirando o sono. Essa paz ensurdecedora é nova, preciso me adaptar a ela, afinal, por longo período, a única coisa que conhecia de cabo a rabo era o mal que me fa