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rosa amarela.

Eu esqueci como se volta para casa. Eu não moro mais em mim... Eu morava em ti e nem sabia. Estou na rua, buscando um novo lar.

Viver na história do outro a nossa própria é no minimo, desvario.
Eu não reconheço os meus passos. Por anos eu caminhei de cabeça baixa, segurando firme sua mão.
Eu não lembro dos caminhos. Por anos eu dormi tranquila no banco do passageiro.
Eu não sei qual o meu rosto. Por anos eu me via através dos seus olhos.
Eu não distinguo meus sabores. Por anos eu absorvi apenas os seus.
Eu nem sei sequer o que de fato é meu...

Nem ao menos, quem sou eu.


Mas estou aprendendo...

A duras penas, com agrura e relutância, eu estou percorrendo.

O barulho da solidão, que é silêncio fora e balbúrdia dentro, me acompanha dia a dia, noite a noite, hora a hora, gota em gota.

Você sabia que haviam flores em mim? Sim! Encontrei uma perdida dia desses.
Ela me contou que existem outras...

Eu debochei.Você nunca às viu. Eu, por conseguinte, também não.

Era uma rosa amarela, bonita até, um tanto quanto sovada, admito, porém tinha um perfume que eu reconheci:                                                                    
                                                                                 Tinha cheiro de eu.

A saudade tomou conta...
                                                     Dessa vez não de você.

Saudades de mim, quem diria?

E agora eu estou tentando reparar os danos, corrigir os erros e atenuar as consequência desse rompimento tão inopinado;

O nosso? 

Não, não...

         {O meu com quem eu era...E sou. }


Creio agora, depois de tanta dor, que existam outras rosas aqui ...



Vital, V.


Comentários

Os queridinhos.

Eu precisava ter...

Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

Eu chorei pelo sistema.

Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”. E eu chorei.     Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral] Venho chorando desde então   - dia após dia -   de forma lancinante e,  desculpem-me a sinceridade, mas um tanto quanto colérica. Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond, com Flaubert e Assis. Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e Marx. {Choro as lágrimas de Brecht.} Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.   Choro  ainda mais pelo João, pelo Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...) . Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados foram e já estão condenados a exploração. Choro pela injustiça masca

E de repente passa...

E de repente passa... A dor que esmagava o peito, tirava o ar, embrulhava o estômago, passa... A saudade que mastigava, que corroía, que desbaratinava  simplesmente passa... O medo que cegava, que infiltrava, que assombrava... Passa também! E tudo aquilo que achávamos que nos mataria, vai se esvaindo, assim, como um copo trincado que perde lentamente a água e quando nos damos conta, já está vazio. Eu me esvaziei de você e nem me dei conta. Quando lembrei de ter saudades, eu já não a tinha mais. Deve ter pulado para outro coração. A tristeza já não mora mais aqui e eu não sei de seu paradeiro. Espero que ninguém encontre. E você, que era meu tudo, simplesmente não é  mais nada. Nada além de um vazio gigante que ficou no lugar de sua partida. Não dói, não fere, nada. Só é estranho, esquisito não ter você aqui me tirando o sono. Essa paz ensurdecedora é nova, preciso me adaptar a ela, afinal, por longo período, a única coisa que conhecia de cabo a rabo era o mal que me fa