Pular para o conteúdo principal

E a gente ainda vai rir de tudo isso.

Acredite em mim; ainda estaremos sentada num bar e a cerveja estará especialmente gelada, a porção de batatas oleosas voltará a ter sabor; e a gente vai rir de tudo isso.
Lembraremos das horas corridas, aflitas, passadas e mal acabas, sofridas; e a gente vai rir de tudo isso.
Contaremos uma  a uma, as situações embaraçosas que passamos até ali e os medos que brotavam como gotas em dias de chuva; e a gente vai rir de tudo isso.
Olharemos para trás e não acreditaremos que pensamos que não conseguiríamos, que não iriamos aguentar. Sentiremos por um segundo a mão na garganta, aquela que sufocou por diversas vezes o choro que nós sufocamos para parecer fortes. Olharemos uma para outra e brindaremos; a gente vai rir de tudo isso.
Recordaremos as vezes que saímos para beber- ou esquecer- e nos pegamos filosofando de como seria nossas vidas dali para frente. Se aquele amor que nos destruía seria algum dia superado. Olhávamos uma para a outra e dizíamos:” Não, impossível, dessa vez é pra sempre!”; a gente ainda vai rir de tudo isso.
Nossos olhos encherão de lágrimas – como sempre fazíamos- ao reviver as fotos ainda salvas naquela pasta esquecida do celular. Sentiremos saudade do que vivemos, do que não vivemos e principalmente, do que gostaríamos de ter vivido; a gente vai rir de tudo isso.
E a lógica irracional do tempo fará sua mágica novamente, e ele passará e veremos que sobrevivemos e daremos risada, pois chegamos a um dia duvidar. Nos confortará perceber que o foi verdade permaneceu, consolidou e rendeu frutos e nos aliviará constatar que o que era de mentira, por terra caiu.
Daremos as mãos, como na nossa promessa de nunca largar, e perceberemos que Deus sempre cuidou de cada detalhe da nossa trajetória e que tudo aconteceu por um propósito maior. O de estarmos ali.
Beberemos mais algumas cervejas – rotina cuja o qual não mudou- e saberemos que estamos pronta para outras: outras dores, outras cores, outros sabores, outros amores. E a gente ainda vai rir de tudo isso.


Vital.V.

Comentários

Os queridinhos.

Eu precisava ter...

Eu precisava ter sido a última a ser escolhida para a festa junina durante toda a minha infância. Eu precisava ter tropeçado na quadra durante a educação física no último ano do Fundamental e feito todos os garotos darem risada. Eu precisava ter presenciado cenas de agressão física e moral dentro da minha casa. Eu precisava ter visto minha mãe chorar durante noites a beira da minha cama. Eu precisava ter deixado uma mala pronta no armário ao longo dos anos, caso precisasse fugir repentinamente. Eu precisava ter ouvido que eu não podia ir à casa da Vanessa, pois a mãe dela não aceitava colegas com pais separados. Eu precisava ter sido excluída da lista da festa de debutante da Dai pois não atendia ao padrão estético das outras meninas. Eu precisava ter me sentido a pior das garotas. Eu precisava ter enfiado o dedo na gargant a diversas vezes, pois tinha ódio do meu corpo e vergonha de mim. Eu precisava ter me submetido a relacionamentos abusivos por não me sentir dign

Eu chorei pelo sistema.

Uma tarde fria de um domingo qualquer. Tudo acontecia lá fora como sempre aconteceu. As horas passavam, as pessoas grassavam gozando do seu direito de ir e vir, a fome assentava, o medo imperava, a angústia antecedente a segunda adentrava, enfim... Só mais um dia “normal”. E eu chorei.     Não no sentido poético, não de forma alegórica. [ Foi literal, foi visceral] Venho chorando desde então   - dia após dia -   de forma lancinante e,  desculpem-me a sinceridade, mas um tanto quanto colérica. Eu já chorei com Homero, Virgílio e Cervantes. Também com Drummond, com Flaubert e Assis. Hoje eu choro com Coetzee, Trotsky, Amendola, Bakunin e Marx. {Choro as lágrimas de Brecht.} Choro o sangue de Spies ,Parsons, Fischer e Engel.   Choro  ainda mais pelo João, pelo Zé, pelo Sr. Pedro, pela Dona Maria, pela Luisa, pelo Oswaldo, pelo (...) . Choro pelos meus filhos – pobrezinhos - que nem gerados foram e já estão condenados a exploração. Choro pela injustiça masca

E de repente passa...

E de repente passa... A dor que esmagava o peito, tirava o ar, embrulhava o estômago, passa... A saudade que mastigava, que corroía, que desbaratinava  simplesmente passa... O medo que cegava, que infiltrava, que assombrava... Passa também! E tudo aquilo que achávamos que nos mataria, vai se esvaindo, assim, como um copo trincado que perde lentamente a água e quando nos damos conta, já está vazio. Eu me esvaziei de você e nem me dei conta. Quando lembrei de ter saudades, eu já não a tinha mais. Deve ter pulado para outro coração. A tristeza já não mora mais aqui e eu não sei de seu paradeiro. Espero que ninguém encontre. E você, que era meu tudo, simplesmente não é  mais nada. Nada além de um vazio gigante que ficou no lugar de sua partida. Não dói, não fere, nada. Só é estranho, esquisito não ter você aqui me tirando o sono. Essa paz ensurdecedora é nova, preciso me adaptar a ela, afinal, por longo período, a única coisa que conhecia de cabo a rabo era o mal que me fa